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Empresa de celulose é acusada de ameaçar posseiro

O proprietário rural, Geraldo Pereira dos Santos registrou na terça-feira (16), na Delegacia Territorial de Eunápolis, um Boletim de Ocorrência, no qual, acusa a Veracel Celulose S/A, empresa que explora o agronegócio de celulose na microrregião da Costa do Descobrimento, de haver mandado, quem ele denomina de “pistoleiros”, ameaça-lo, na propriedade que o posseiro possui, e está localizada entre os plantios de eucalipto da empresa de celulose.


A ameaça ocorreu na manhã de segunda-feira.

O início do que o proprietário denomina de “trama” deu-se no dia 2 deste mês, quando uma mulher e um homem bem vestidos chegaram à sua posse, onde estava um trabalhador seu, Valmir dos Santos, e teria indagado sobre como falar com ele [Geraldo]. Foram informados de que o dono estava na cidade, onde mora, e, em seguida, após dizer serem representantes da Veracel, teriam perguntado se o dono tinha interesse em vender a propriedade. O trabalhador respondera que achava que sim. 

Convidaram Valmir, então, a entrar no veículo, um carro de luxo, alto, preto – que o trabalhador não soube identificar o modelo -, tendo o grupo, percorrido áreas da propriedade. Numa espécie de conhecimento dos limites da propriedade. 

Ao final, confirmaram o interesse em adquirir a propriedade, e combinaram que voltariam no dia 15, para se entenderem com Geraldo, sobre o preço das terras. 

Desconfiado, Geraldo não foi ao encontro. Na véspera, entregou ao seu trabalhador um telefone celular, e o orientou a ligar para ele [Geraldo], caso o casal voltasse a procura-lo.

Nesta segunda feira, o dia combinado, por volta das 10:00h, ao invés do casal, apareceram no local três homens, num carro Fiat – cujo modelo, o trabalhador não soube informar – branco, sem placa. 
Sem descerem do veículo, um deles perguntara por Geraldo. Seguindo a orientação, o trabalhador disse que o proprietário não estava ali, e se propôs a fazer a ligação, para que os homens falassem com Geraldo. “Nós queremos é ele, não falar por telefone”, afirmou o que parecia ser o chefe. Em seguida, saíram, sem nada mais falar. 

“Não posso pensar em outra coisa que não seja uma ameaça velada”, afirmou Gerado. 

DISPUTA AGRÁRIA – A propriedade onde o episódio ocorreu, pertence a ele (Geraldo) e seu irmão, Derolino Pereira dos Santos. Os dois foram expulsos daquelas terras, onde viviam até agosto de 1994, por homens armados que diziam estar a serviço da Veracruz Florestal – embrião da hoje Veracel Celulose S/A. Terras que reocuparam em setembro de 2012 - onde plantam roças e desenvolvem outras atividades de subsistência -, após vistoria feita por funcionários da própria Veracel. 

Durante esses quase dois anos de permanência no local, os irmãos Pereira nunca tiveram a posse questionada judicialmente pela empresa, que fez uma espécie de averiguação, através de dois funcionários seus – Jovane Vicente Ferreira, assistente florestal e Leones Dorneles, técnico em segurança -, cuja conclusão teria sido de que as terras pertenceram mesmo aos dois irmãos. 

O antigo posseiro possui também, recibos dos impostos que paga ao Incra até hoje, sobre a propriedade, há mais de 20 anos. 

No início deste mês, um Oficial de Justiça, ao cumprir um Mandado de Reintegração de Posse em favor da Veracel, do juízo da Vara de Feitos Cível da Comarca local, que determinava a retirada de um grupo de famílias ligadas ao Movimento de Luta Pela Terra (MLT) e outro, que há alguns anos, ocupam uma área da Veracel, “próximo ao Lixão, Zona Urbana do Município de Eunápolis”, como consta no documento, o Oficial – acompanhado pela polícia - foi até a propriedade de Geraldo, que fica há quase 15 Km daquele local, e o retirou da propriedade, derrubando a casa e destruindo parte do que havia plantado lá”. “Foi como fizeram os jagunços da Veracruz em 94; do mesmo jeito”, diz ter relembrado o proprietário rural. 

GRILAGEM – A grilagem de suas terras é sustentada pelos irmãos Pereira, e originou matéria publicada em pelo menos um site de ONG ambientalista internacional, a World Rainforest Moviment, no início deste ano. A matéria intitulada de “Grilagem Terceirizada”, assinada pelo jornalista, Teoney Araújo Guerra, conta como grandes empresas expulsaram, nas décadas de 70, 80 e 90, posseiros de terras que hoje estão no poder do agronegócio da celulose, na Costa do Descobrimento. No texto, a suposta grilagem das terras dos irmãos Geraldo e Derolino é posta em evidência, como um exemplo da violência que foi cometida contra centenas de famílias que foram expulsas do campo, na microrregião. 

O proprietário rural já ajuizou ação na Justiça local, visando reaver a propriedade que afirma ser sua.


Por Teoney Guerra 
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